Decisões

segunda-feira, 5 de julho de 2010
Seus passos seguiam vacilantes pelas longas escadarias em espiral. Não deveria estar ali, mas também não tinha outra escolha. Antigos castiçais empoeirados se acendiam a medida que descia até a masmorra. No final da escadaria um imenso salão se abria. As paredes em pedra nua, divididas por imensas portas de carvalho. Todas exatamente iguais, antigas e corroídas pelo tempo. Todas com um imenso L de prata preso em seu centro. Ele passou pelas primeiras sem nem ao menos olhar para os lados. Sabia o que queria, deveria entrar ainda mais fundo para achar. Finalmente parou diante de uma... Era exatamente igual às outras, mas era a certa. Pegou o imenso chaveiro enferrujado, contou as chaves e pegou a certa. Fazia tanto tempo...
- Estava lhe esperando...
- é bom vê-lo novamente...
O ambiente nada lembrava uma cela. As paredes eram brancas decoradas com grandes quadros antigos. Havia ainda uma luxuosa cama e uma bela escrivaninha, bem como uma grande mesa de madeira,onde ele aguardava com um tabuleiro de xadrez pronto.
- Faz tempo que não temos um jogo... vinho?
- Se insiste tanto, apenas uma taça... pode começar.
- Onde esta o outro?
- Morreu...
- Você o matou também?
- Não, não foi minha culpa... a Morte que o matou
- A Vida que o matou... perdeu outro cavalo...
- E você seu bispo...
- Bem, sejamos sinceros o que traz você a meu humilde palacete?
- Vim lhe propor um acordo...
- Qual acordo?
- preciso de sua ajuda, em troca terá sua liberdade de volta...
- Hehe, não prometa o que não pode me dar.
- Tenho a chave daqui... você poderia andar novamente, viver sua vida pro completo, ser livre para sempre...
- Esse é seu erro, achar que isso é viver. Aquele tolo aceitou sua proposta e você acabou por matá-lo... Toda vez que tem um problema desce aqui e libera um de nós... oferece uma vida medíocre.
- Deixe de besteira, os outros só morreram por não saber viver.
- Nem poderiam. Afinal, você mesmo não sabe... acredita que se vive cada dia. Ainda não entendeu que a vida é feita de poucos dias, de umas poucas horas... vivemos um eterno arrastar de tempo... esperando uma explosão de emoção. Sua vida é a espera... por isso é tão tolo. Eu por outro lado sou livre, fico aqui escrevendo, bebendo... Num dia você surta, me liberta por poucas horas e assim sou feliz. Não quero viver com você essa vida de espera inútil. Cheque...
- Acaba de perder sua dama...
- Sinceramente, resolva esses problemas primeiro, cresça um pouco. Depois volte e me liberte. Não sairei agora, não ao lado de um verme... Sinto, mas sou mais livre aqui. Apenas deixe de ser mimado...
- Preciso de você, escolhi você porque era a hora certa. Nossa vez de jogar
- Me escolheu porque sou o melhor ou o pior... não importa... sou o mais indicado para o momento... eu sei que seriamos uma boa dupla... Só lamento você não estar pronto... Perdeu sua dama.
- Esta certo, venceu por hora... Melhor declarar um empate. Nenhum de nós pode vencer sem sua dama.
- Tudo bem por mim... boa sorte então e até a próxima... não esqueça de trazer uns vinhos de vez enquanto e uma penas também
- Merda, odeio perder...