Noites de Luar II

quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Que Lua linda, pena a noite ser tão suja. Tanto mal espalhado nos becos escuros, tantos humanos se matando. Malditos cães infernais, estão cada vez mais fortes. Alimentados com medo e dor. As trevas estão ganhando essa guerra antiga. Humanos tolos...
O vento é refrescante sob minhas asas. Lá em baixo mais um bêbado é morto. Elas têm tido bastante trabalho... Não cabia a eu interferir, isso é para anjos da guarda. Minha missão é enfrentar o mal, não salvar vidas egoístas e mesquinhas. Só interfiro se eles estiverem no meio...
Sento no topo de um prédio, fecho minhas lindas asas. Observo os poucos humanos andando nas calçadas, tudo normal em seu mundo sem sentido. Fico um bom tempo assim. Minha intuição não falha, estão aqui. As sombras começam a se mover, sobem o prédio, já perceberam minha presença. Enxofre... Dois imensos cães saem do telhado. Seus corpos deformados e os chifres curtos indicam seu posto baixo. Não estão sozinhos, não seriam tão burros.
Uma figura dantesca surge em minha frente, não tem corpo solido realmente. Suas formas são uma espécie de nevoa, nevoa maligna, provocante. Um lindo rosto feminino se forma, adornado de imensos cornos. Minha cabeça deve estar a premio, e com um preço bem alto. Não vou me reder tão fácil. Estava mesmo entediada:
-que bela anjinha temos aqui.
-Não sabia que estava de volta.
-Você nunca sabe de anda, garotinha mimada.
Demônio maldito, ira pagar por essa ofensa. Saco minha espada. Meu corpo brilha minhas asas se abrem plenamente, não tenho como ser derrotada. Os cães vêm rapidamente. Decapitados pela lamina celestinas desaparecem em fumaça sulfurosa. Ela me encara com um sorriso malicioso. Merda, era uma armadilha, meus pés estão presos por imensas garras negras, outras saem do chão e seguram minhas asas. Tento me soltar, corto algumas, mas outras vêm imediatamente. Idiota, só falta ser derrotada assim.
-Menina arrogante, estúpida. Subestimou-me, não cometera nenhum erro mais...
Minha espada esta no chão, meu orgulho ferido, preciso fugir. A nevoa me rodeia, ela ri, retira de seu vestido uma lamina negra.Meu fim. Um som do longe, se aproximando, sinto uma lança atravessar meu corpo. Não é uma lança, é uma flecha. As garras se afastam com sua chegada, atravessou meu corpo e se fincou no chão. Sem dor, o que aconteceu? Pouco importa, tenho que fugir. Pulo em direção a rua:
-Vão atrás dela!
Caio no chão, me machuco um pouco mais, eles estão atrás de mim, corro como uma humana qualquer. È medo o que eu sinto, medo e vergonha. Um grito raivoso:
-Cupido!!
Olho para trás, eles estão perto. Minhas asas somem, meu brilho também, não tenho mais forças. Bato em algo solido, um corpo. Um corpo magro e estranho. Ele vai ao chão eu também. Levanto-me cambaleando, ele me segura. Idiota preciso fugir. Levanta-se, ajeita os óculos e me abraça:
-Se acalme.
Sua voz surge como um mandamento. Sinto meu peito quente, algo nos envolve, me coração desacelera. Uma luz que só eu posso ver. As sombras param e começam a recuar. A luz venceu. Fui salva, salva por um mero humano...
-Desculpa.
Ele me diz, beija meu rosto e se afasta. Segue só pela noite. Eu parada fico olhando meu salvador... Idiota...

Noites de Luar

domingo, 18 de outubro de 2009
Sinto seu cheiro. O doce aroma de seu sangue. Safra boa, 89 provavelmente... Ele é uma presa fácil. Em meio a tanta música, tantos corpos, ele se destaca. Um corpo frágil, recém-nascido, um estranho nesse ambiente doido. Numa boate ninguém conhece ninguém, são apenas vultos. O lugar perfeito para uma caçada.
Chamo a tenção de muitos idiotas, minhas curvas eternas, meus hipnotizantes olhos negros. Tudo contribui para eu ser a perfeita caçadora. Prefiro esses vermes com muitos músculos e pouco cérebro, rostos lindos para minha coleção. É delicioso ver aqueles touros tentando fugir do meu abraço fatal. Não entendem que uma vampira jamais será detida por um humano... A adrenalina é deliciosa, embora não aprecie esses malditos esteróides...
Hoje quero algo novo. Um sangue diferente, mais doce, mais inocente... Aproximo-me daquele corpo magro. Ele esta claramente deslocado. A música alta só permite troca de olhares. Tenta ajeitar os óculos, não esperava que uma garota tão perfeita se aproximasse assim, que o levasse para um canto, beijasse sua boca...
- Você não quer ir para um lugar mais agradável?
Digo com um sorriso malicioso nos lábios. Ele gagueja qualquer coisa...
Estamos andando, andando simplesmente. É engraçado esse espécime, seu coração esta acelerado, mas é apenas nervosismo e desejo. Não sabe como se comportar. Prendo seu corpo contra uma loja. Começo beijá-lo. No inicio ele mal corresponde paralisado. Algo muda, ele passa a corresponder, fazia tempo que eu não sentia isso. Ele quer me agradar, molda suas caricias de acordo com minhas reações, prevendo meus movimentos. Nossas bocas se separam, ele percorre meu pescoço, quanta ironia. Um arrepio gostoso toma conta de mim. Não tenta nada de ousado, mas continua com toda a vontade. Uma presa gentil...
Minha vez de retribuir, o cheiro doce do seu sangue se mistura com seu perfume. A noite esta linda, perfeita para um juntar. Sua jugular pulsa deliciosamente. Meu s lábios e seu pescoço, que combinação divina. Começo a sugar sem ferir. Tão bom, talvez deva deixar para mais tarde, curtir um pouco mais. Ele esta alheio ao perigo. Meus caninos tocam de leve sua pele. O medo não vem. É cedo ainda, a noite é longa. Volto para seus lábios. Ele me aperta contra eu corpo, delicia, sussurra um meu ouvido:
- Quer comer uma pizza?
Controlo-me para não rir, eu toda disponível, “vulnerável” aos seus instintos e ele sendo cavalheiro...
Sentados numa pizzaria quase deserta, minhas pernas a mostra e ele insistindo em olhar em meus olhos. Muito curioso, delicioso diria. Conversamos amenidades, ele me faz rir. Um ritmo seco começa em meu interior. São batidas há muito adormecidas. “Qual você quer?”. “Pode escolher...” digo distraída. “Uma Romana media e dois vinhos...”. Bebemos aos poucos, curtindo o momento. Mostro meus alvos caninos, ele se admira e elogia minha higiene. Bobinho...
A pizza chega, ele me serve, como um pedaço para acompanhá-lo. Meu corpo queima. Filho da puta. Alho. Pareço derreter por dentro, minhas forças desaparecem, dor simplesmente. Ele olha preocupado, beija minha face e diz
- Desculpa...
Saiu solitário pela noite, mas deixou a conta paga e uma idiota se contorcendo.
Maldito...